Tendo como eixo a inovação, a Inteligência Artificial brasileira precisa ser reconhecida como uma forma de cosmotécnica, ou seja, um processo sociocultural sustentado por tecnologias, construído a partir de olhares e práticas singulares intrínsecos à cultura brasileira. Cosmotécnica como uma prática inovadora de “florescimento de trabalhos verdadeiramente inaugurais, capazes de extrair o máximo das potencialidades significantes dos nossos meios” (Arlindo Machado, em Máquina e imaginário, p. 11). A partir desta perspectiva será necessário apresentar alguns princípios para sustentar esta cosmovisão da técnica:
a IA não é mera tecnologia ou ferramenta de uso técnico, mas se converte em um processo social e técnico que necessita ser articulado em benefício da humanidade e dos demais entes não humanos (flora, fauna, recursos minerais e os inventos técnicos)
é preciso estabelecer um trabalho constante de valorização dos processos inventivos locais e, ao mesmo tempo, respeitar toda a tradição global de elaboração da técnica já construída
é necessário estabelecer interseções entre os saberes locais e os saberes globais como premissa de uma construção social e técnica voltada para a valorização da soberania nacional, ao mesmo tempo em que se reconhece os valores inventivos vindos das demais nações
é necessário reconhecer outras formas de produção técnica, além das tradições hegemônicas contemporâneas, indo além do pensamento único estabelecido pelas tradições estadunidense e europeia
a IA brasileira precisa ser sustentada por investimentos advindos do setor público e do setor privado, tanto em atividades de pesquisa básica quanto aplicada
é preciso que as empresas brasileiras se reconheçam como entes que possuem objetivos sociais vinculados aos interesses de desenvolvimento da nação brasileira
o desenvolvimento de processos de Inteligência Artificial de uma nação perpassa construir conhecimentos alicerçados em lógicas computacionais ligadas à construção de códigos, interconexão de sensores e gerenciamento de grandes quantidades de dados
é preciso contar com a participação de autores de diversificados setores da sociedade brasileira, o que demanda um trabalho de governança multidisciplinar, multissetorial, multirracial, multigênero, multietário e multi-institucional.